Contos

sábado, 26 de setembro de 2009

O presidente muamba

Mainardi sintetizou tudo:

Celso Amorim é nosso homem em Tegucigalpa. Como o protagonista do romance de espionagem de Graham Greene (na tela, Alec Guinness), ele copiou o desenho de um aspirador de pó e passou a negociá-lo como se se tratasse de algo maior: um plano militar secreto.

O aspirador de pó hondurenho é Manuel Zelaya. Ele representa o eletrodoméstico mais antigo, mais prosaico e mais rumoroso da América Latina: o caudilho bananeiro que dá um golpe para se perpetuar no poder. Mas Celso Amorim, contando com a cumplicidade e a obtusidade de seus chefes, montou uma farsa internacional e contrabandeou o aspirador de pó hondurenho como se ele fosse um defensor da democracia, derrubado ilegitimamente por uma ditadura militar.

(...)

Na última semana, Hugo Chávez comparou Manuel Zelaya a Pancho Villa. Pancho Villa tinha um bigode. Pancho Villa tinha um chapéu. Pancho Villa era um bandido. Se Manuel Zelaya de fato é Pancho Villa, onde está Woodrow Wilson, o presidente americano que o combateu? Barack Obama? Nada disso. Segundo Hugo Chávez, "falta firmeza" a Barack Obama.

A "falta de firmeza" de Barack Obama garantiu o sucesso do primeiro putsch lulista. Daqui a dois meses, em 29 de novembro, Honduras elegeria um novo presidente da República. Seis candidatos concorreriam ao cargo, dois deles ligados ao próprio Manuel Zelaya. Ao receptar o presidente-muamba na embaixada brasileira, Lula conseguiu melar a disputa eleitoral, impedindo qualquer possibilidade de saída democrática para a bananada hondurenha. Além disso, seu ato estimulou uma brutal onda de saques a supermercados e a bancos do país. O imperialismo lulista é assim mesmo: Tegucigalpa é nosso quintal, e em nosso quintal quem escolhe o presidente é o nosso presidente. E ele já escolheu: é o aspirador de pó.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Da arte da prosopopéia flácida

Ontem, quando cumpria minha cota diária de leitura do Pimenta na Muqueca, me deparei com um texto assinado pelo professor Gustavo Haun, onde o mesmo traçava considerações sobre supostos “grupelhos” civis. Terminada a leitura, só pude suspirar e questionar: Cuma?

Perdoem o latinório, mas o texto inteiro é um non sequitur. Trata-se de uma modalidade de falácia lógica, na qual as premissas elencadas não correspondem às conseqüências assumidas.

No caso concreto, se bem entendi, o professor questiona a utilidade da existência de tais grupos dedicados à discussão política, os quais, desvinculados da práxis concreta de sindicatos e “movimentos sociais”, não passariam de mera masturbação ideológica.

Neste sentido ele cita a conivência da sociedade brasileira com o regime militar e o fatos de poucos terem pego em armas para lutar “pela liberdade” para, em seguida, acusar os membros destes grupos de serem direitistas, de estarem a contramão da História, de quererem mamar nas tetas da Viúva, e de planejarem orgias com Whisky, Cocaína e putas, “à la”(sic) Berlusconi. Não fica claro, entretanto, se a raiva dele vem do fato de os grupos proporem discutir a política local, ou se por que seus membros seriam “direitistas”.

Pois bem. A formação de grupos civis dedicados à interpretação da realidade, ao contrário do que diz o professor Haun, não é coisa nova. A Academia grega era formada por grupos de aficionados por política & filosofia, volta e meia entregues à farra. Mais recentemente, as Revoluções Americana e Francesa não ocorreram senão após longos anos de maturação intelectual, em tavernas e salões literários.

Atualmente, os think tanks são muito comuns em países como os EUA, e são eles que fornecem os dados indispensáveis para subsidiar a discussão política séria. Se foi criado um grupo civil para pensar e discutir a cidade, ótimo, estamos precisando mesmo refletir sobre Itabuna.

A primazia da reflexão sobre a ação é a base de uma evolução política sustentável. Seu antípoda, preconizado por Karl Marx na sua 11ª Tese sobre Feuerbach, foi a mola mestra para o império de terror gerado pelos movimentos revolucionários marxistas em países como Cuba, China, Coréia, Albânia (todos países espelho e patrocinadores de Lamarca, Marighella e sua patota). A falta de diversidade nas discussões políticas, e a própria pobreza destas discussões, preteridas em prol da ação, é uma das causas da miséria política de hoje.

Quanto à acusação de eles serem “da direita”, todas as premissas ocultas e explícitas na peculiar definição de direitista do professor Haun caem por terra.

Primeiro, pelo óbvio: O fato de alguém estar politicamente à sua direita não o torna ipso facto direitista. Lula está à direita de Heloísa Helena, mas nem por isso é direitista. Serra está à direita de Lula, mas a social-democracia é uma doutrina de centro esquerda. Mesmo o finado PFL abriu mão do seu direitismo em prol da nova roupagem sem sal “democrata”, explicitamente inspirado no Partido Democrata americano. Os direitistas brasileiros, se ainda existem e resistem, pontilham aqui e ali, sem um partido que realmente tenha coragem de defender o ideário básico da direita tradicional.

Entrementes, ainda que estas pessoas fossem direitistas – e não o são, conheço muitos deles pessoalmente – isto, em si, não significa nada de necessariamente desabonador. Afinal, direitista não é mais patrimonialista ou apegado a cargos que o gauche. Ao contrário, em matéria de aparelhamento do Estado, a esquerda é hors-concours, seguindo a estratégia de ocupação de espaços preconizada por Gramsci.

Mais a mais, por acaso direitista é herege, merecedor da fogueira santa da revolução?

Enfim. A crítica do professor Haun não se amarra. Ele não demonstra, sob nenhum aspecto lógico, qual o mal em si do movimento que pretende criticar, ou qual o nexo da ditadura militar com uma OSCIP de hoje, ou como ligar um bate papo com cerveja a Berlusconi, Evo ou Chávez. Seu texto limita-se a uma verborragia de clichês políticos subginasiais para passar a impressão de crítica embasada.


(Publicado em http://www.pimentanamuqueca.com.br/?p=20412)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

É pra comemorar?

Manchete: "Jacques Wagner diz que segurança pública voltou à normalidade."

Pronto, respiremos aliviados. Ou não.

Ninja

Nota do blog Xilindró Web. Volto em seguida:

A polícia conduziu para delegacia de polícia Carlos Henrique Santana Ferreira, residente na rua Tertuliano Guedes de Pinho, bairro Jaçanã, em Itabuna, sob acusação de ato obsceno e crime de transito.

Segundo a Polícia Militar, por volta das 21 horas da última segunda-feira, 14, o acusado se encontrava se masturbando em via pública, no bairro Pontalzinho. Além disso, o homem estava conduzindo uma motocicleta sem habilitação.A PM ainda informa que no tanque do veículo foi apreendido diversos DVDs pornográficos.

O sujeito estava conduzindo uma moto e se masturbando ao mesmo tempo? Eis um ninja de verdade!

Epic Win

Os funcionários dos Correios entraram em greve. Assim, quem estiver esperando o recebimento de faturas de contas deve procurar as empresas para receber suas contas via fax, telefone ou outro meio, por que isso constitui obrigação do consumidor.

Parabéns, STF!

A Navalha de Ockham

No Blog do Azenha saiu hoje um post escrito por Gilson Caroni Filho, da Agência Carta Maior, chamado "O extermínio como medida profilática". A tese é bastante simples. A baderna promovida por algumas dezenas de manifestantes da favela Heliópolis, que tem 120 mil moradores, casas de alvenaria, saneamento básico e calçamento foi causada pela pobreza. Diante disso, escreve, "nada mais resta às autoridades senão se livrarem deles (os “desviantes”) para que a harmonia da cidade volte a imperar. O extermínio como medida profilática é o projeto dos que defendem um mínimo de Estado e um máximo de barbárie."

É o velho lenga-lenga de Loïc Wacquant (As prisões da miséria, Jorge Zahar, 2001), de que um suposto "estado mínimo neoliberal" no campo social demanda um estado penal máximo.

Bullshit, eu digo. O que ocorreu em Heliópolis não foi obra de uma massa indignada de oprimidos, mas de uma franca minoria entre 120.000 pessoas que moram na favela. Ademais, existem favelas piores que Heliópolis, em termos de condições de vida dos moradores (Heliópolis tem até sinal wi-fi, o que me faz deduzir que deve haver uma boa demanda por este serviço, dificilmente associado à miséria).

Além disso, a violência dos baderneiros se dirigiu a ônibus, seus ocupantes, e carros de moradores, e não contra as elites.

Por fim, ninguém morreu nos confrontos com a polícia. Difícil política de extermínio, essa, que não extermina ninguém.....

Por isso defendo o uso da lógica como medida profilática contra embusteiros.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

The Day after Tomorrow

Ontem: Cheguei no escritório às 07:45. Fiz três defesas em casos de expurgos. Fui no banco pegar subsídios para uma defesa. Voltei. Mais duas defesas. Um Recurso Inominado. Telefonemas. Salvador, Ilhéus, Itabuna, Recife. Diligência: 5ª Vara Cível, duas certidões para um Agravo de Instrumento. Emails, diversos. Moto-Taxi. Justiça do Trabalho, 8 audiências em três varas diferentes, num espaço de 1 hora. Atraso nas audiências, levo três horas subindo e descendo escadas atendendo ao pregão, invertendo pautas. Ônibus. Escritório. Fechamento de pauta. Casa. Enfim, almoço: 19:30
Hoje: Justiça do trabalho, 08:00. Audiência para Razões finais. Reiterativas. Diligências: 21 processos, em 3 Varas. Cópias xerox diversas, para que o cliente decida se acha bom ou não conciliar. É a Meta 2. Telefonemas: Itabuna, Ilhéus, Salvador, Coaraci. Escritório, selecionando páginas para cópia e scan. Post em blog. Acabo de ser informado pelo cliente de duas audiências amanhã, no juizado, para as quais ainda tenho que redigir defesa. Almoço? Sem previsão.


Nada como um dia após o outro.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Crise no judiciário? Onde? [parte 2]

Leio que o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia foi multado por pagar férias a desembargadores aposentados.
Férias a aposentado?
Quem pode se queixar de uma Justiça assim?

Casa de ferreiro...


....espeto de pau.
Excelente foto, copiei do site do jornal Diário do Sul, na matéria que trata da paralisação dos servidores do Ministério Público da Bahia.

sábado, 5 de setembro de 2009

Crise do Judiciário? Onde?



Foto de Haroldo Abrantes (A Tarde)

"Enquanto os desembargadores reclamavam do resultado da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgada na terça e cujo resultado colocou o TJBA como o pior avaliado do Brasil o Desembargador (Carlos Roberto Santos) Araújo olhava para a tela.
Decidiu mover um dos cavalos para a frente dos peões. Antes disso o desembargador já havia protegido o rei com a clássica jogada do roque, em que peões e torre cercam a majestade do perigo" (A Tarde de 05 de Setebro, pág. B5)"

Como canta a musiquinha, "só se vê na Bahia, só se vê na Bahia"