Contos

domingo, 4 de abril de 2010

A priest! Burn him!


As reações coletivas à fala do padre Raniero Cantalamessa demonstram o analfabetismo seletivo reinante nas redações de jornal. As manchetes foram as seguintes:




Cito ainda um trechos de reportagem:

Na Alemanha, os judeus também manifestaram contrariedade. Para o secretário-geral do Conselho Central dos Judeus do país, a comparação é um "insulto".

"É uma impertinência e um insulto para as vítimas dos abusos sexuais, assim como para as vítimas da Shoah", declarou Stephan Kramer à AFP.

São apenas algumas. Ponha "Vaticano" e "Antissemitismo" no Google e terá uma idéia aproximada do que estou dizendo.

O nonsense neste caso é tão esdrúxulo quanto o da "predição" do Pedro Ravazzano no blog Acarajé Conservador. Ninguém se deu ao trabalho de ler o que foi dito; tão somente brincam de "telefone sem fio", imputando ao Vaticano uma posição que o o Padre Raniero não defendeu.

Com dois minutos de Google eu achei o texto integral do sermão do dia 02. O sermão trata da violência contra a mulher. O padre aproveitou para fazer referência a um amigo que lhe escrevera, adentrando na campanha sistemática em curso atualmente contra a Igreja (sobre a qual o filósofo Olavo de Carvalho discorre muito bem aqui e aqui). Transcrevo:

Por uma rara coincidência, neste ano nossa Páscoa cai na mesma semana da Páscoa judaica, que é a matriz na qual esta se constituiu. Isso nos estimula a voltar nosso pensamento aos nossos irmãos judeus. Estes sabem por experiência própria o que significa ser vítima da violência coletiva e também estão aptos a reconhecer os sintomas recorrentes. Recebi nestes dias uma carta de um amigo judeu e, com sua permissão, compartilho um trecho convosco. Dizia:

“Tenho acompanhado com desgosto o ataque violento e concêntrico contra a Igreja, o Papa e todos os féis do mundo inteiro. O recurso ao estereótipo, a passagem da responsabilidade pessoal para a coletividade me lembram os aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo. Desejo, portanto, expressar à ti pessoalmente, ao Papa e à toda Igreja minha solidariedade de judeu do diálogo e de todos aqueles que no mundo hebraico (e são muitos) compartilham destes sentimentos de fraternidade. A nossa Páscoa e a vossa têm indubitáveis elementos de alteridade, mas ambas vivem na esperança messiânica que seguramente reunirá no amor do Pai comum. Felicidades a ti e a todos os católicos e Boa Páscoa”. (grifo meu)

Vamos, então, pôr as coisas no seu devido lugar:

1. O "Vaticano" não fez comparação alguma. O Vaticano é um Estado soberano, e só quem fala por ele é o chefe do estado (o Papa) ou o seu Porta-Voz;
2. Ninguém comparou os ataques à Igreja com o Holocausto. A comparação presente no texto é entre a campanha difamatória movida contra os judeus e a atual, movida contra a Igreja.

Mais a mais, este episódio é uma confirmação do que foi dito na tal carta. A responsabilidade individual da fala do Pe. Raniero foi transmutada para uma responsabilidade coletiva do Vaticano. Um texto que saudava os judeus (leiam-no na íntegra) virou um "insulto". Q.E.D.

A imprensa mundial tomou aula de lógica com Sir Bedevere, de Monty Python. Disso tenho certeza.



Um comentário:

Anônimo disse...

Isso que deverás fuma, do que se trata Edgard?

Pe. Moisés.