Negociando honorários
(24.07.09)
Por Rafael Berthold,
advogado (OAB-RS nº 62.120)
Marido e mulher decidem contratar um advogado para mover uma determinada ação judicial. O problema seria a questão dos honorários. Eles eram pobres, mas não eram bobos. Fariam uma criteriosa pesquisa de preço com, no mínimo, três amostras, antes de contratar alguém.
Amostra 1: o filho da vizinha.
O menino, que frequentava a casa dos consulentes, desde que usava fraldas, recém havia se formado e atendia na mesa de jantar da casa dos pais. Indagado sobre os honorários, respondeu, gaguejando:
– Olha, a questão não é tão simples: demandará alguns anos e muitas idas ao foro. Isso sem contar as audiências e....
– Ok, quanto isso vai nos custar? - interrompe dona Sovínia, já angustiada.
Pelas têmporas do menino toma curso a primeira gota de suor. Ele não quer trabalhar de graça, mas não quer perder os clientes. Também não quer desapontar os amigos da família que acreditaram tanto em sua competência. Premido, nem bem pode ponderar e chuta o primeiro valor que vem à sua cabeça:
– Duzentos reais! Fica muito ruim?
A mulher levanta-se indignada:
- Duzentos reais?! Depois de todos os bolinhos e cachorrinhos quentes que servi pra você lá em casa, quando sua mãe lhe deixava lá? Vamos embora! É só se formar em Advocacia e a pessoa já fica besta, mesmo!
Amostra 2: o super advogado bem sucedido.
– Bom dia!
– Bom dia! Temos hora marcada com Dr. Writ Heróico.
– Pois não. São quatrocentos reais adiantados, só pela consulta.
O casal cruza olhos arregalados. Dona Sovínia, simulando uma inexistente tranqüilidade, volta-se à recepcionista:
– Veja só. Esqueci meu talão de cheques no carro. Vamos lá buscar e já voltamos.
Amostra 3: o experiente e famoso profissional da Advocacia.
- ... Então, o caso é esse, doutor! O que o senhor acha?
– Moleza! Já cuidei de muitos casos assim. Inclusive, enquanto vocês falavam, eu já peguei uma petição de um caso igual, coloquei o nome de vocês, já imprimi e já assinei. Aqui está ela. Podem sair daqui e já distribuir no foro. A propósito, são vinte mil reais.
- Vinte mil reais?! Mas você nem teve trabalho algum! – exclama o Sr. Mísero.
– Sem a minha assinatura é de graça!... - e o causídico rasga, na petição, a parte que contém sua assinatura.
Com essa atitude o profissional esperava que o casal se impressionasse o contratasse. Não foi o que aconteceu. A mulher rapidamente pegou a petição, agradeceu e saiu.
De volta à amostra nº 1.
- Então, foi isso que aconteceu e aqui está a petição daquele experiente advogado.
– Que bom que vocês decidiram me contratar. Bem, então, são duzentos reais.
– Duzentos reais? Mas você só vai ter o trabalho de assinar!
Cansado de avareza e traumatizado pelo último encontro, o jovem resolveu ceder.
– Cem reais, então.
A mulher, um pouco menos agitada, conforma-se:
– Ok. Mas em quantas vezes?
(*) E.mail: rafael@seb.adv.br
(24.07.09)
Charge de Gerson Kauer |
Por Rafael Berthold,
advogado (OAB-RS nº 62.120)
Marido e mulher decidem contratar um advogado para mover uma determinada ação judicial. O problema seria a questão dos honorários. Eles eram pobres, mas não eram bobos. Fariam uma criteriosa pesquisa de preço com, no mínimo, três amostras, antes de contratar alguém.
Amostra 1: o filho da vizinha.
O menino, que frequentava a casa dos consulentes, desde que usava fraldas, recém havia se formado e atendia na mesa de jantar da casa dos pais. Indagado sobre os honorários, respondeu, gaguejando:
– Olha, a questão não é tão simples: demandará alguns anos e muitas idas ao foro. Isso sem contar as audiências e....
– Ok, quanto isso vai nos custar? - interrompe dona Sovínia, já angustiada.
Pelas têmporas do menino toma curso a primeira gota de suor. Ele não quer trabalhar de graça, mas não quer perder os clientes. Também não quer desapontar os amigos da família que acreditaram tanto em sua competência. Premido, nem bem pode ponderar e chuta o primeiro valor que vem à sua cabeça:
– Duzentos reais! Fica muito ruim?
A mulher levanta-se indignada:
- Duzentos reais?! Depois de todos os bolinhos e cachorrinhos quentes que servi pra você lá em casa, quando sua mãe lhe deixava lá? Vamos embora! É só se formar em Advocacia e a pessoa já fica besta, mesmo!
Amostra 2: o super advogado bem sucedido.
– Bom dia!
– Bom dia! Temos hora marcada com Dr. Writ Heróico.
– Pois não. São quatrocentos reais adiantados, só pela consulta.
O casal cruza olhos arregalados. Dona Sovínia, simulando uma inexistente tranqüilidade, volta-se à recepcionista:
– Veja só. Esqueci meu talão de cheques no carro. Vamos lá buscar e já voltamos.
Amostra 3: o experiente e famoso profissional da Advocacia.
- ... Então, o caso é esse, doutor! O que o senhor acha?
– Moleza! Já cuidei de muitos casos assim. Inclusive, enquanto vocês falavam, eu já peguei uma petição de um caso igual, coloquei o nome de vocês, já imprimi e já assinei. Aqui está ela. Podem sair daqui e já distribuir no foro. A propósito, são vinte mil reais.
- Vinte mil reais?! Mas você nem teve trabalho algum! – exclama o Sr. Mísero.
– Sem a minha assinatura é de graça!... - e o causídico rasga, na petição, a parte que contém sua assinatura.
Com essa atitude o profissional esperava que o casal se impressionasse o contratasse. Não foi o que aconteceu. A mulher rapidamente pegou a petição, agradeceu e saiu.
De volta à amostra nº 1.
- Então, foi isso que aconteceu e aqui está a petição daquele experiente advogado.
– Que bom que vocês decidiram me contratar. Bem, então, são duzentos reais.
– Duzentos reais? Mas você só vai ter o trabalho de assinar!
Cansado de avareza e traumatizado pelo último encontro, o jovem resolveu ceder.
– Cem reais, então.
A mulher, um pouco menos agitada, conforma-se:
– Ok. Mas em quantas vezes?
(*) E.mail: rafael@seb.adv.br
Publicado em www.espacovital.com.br
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