Por exemplo, vi no excelente blog do Juiz Nerivaldo Neiva um post dando conta de que estatísticas recentes mostram que o risco de um adolescente negro ser assassinado é superior ao risco que corre um adolescente branco.
A notícia é recente, mas a idéia não inédita. Outras vezes vi notícias similares, com a inescapável conclusão dos comentaristas de que a explicação desta disparidade estaria no racismo.
Em 2005, por exemplo, assistindo ao Seminário Jurídico Brasil-Estados Unidos, em Salvador, promovido pela UFBA, ouvi um dos palestrantes, o advogado Samuel Vida, diretor do AGANJU - Afro-Gabinete (sic) de Articulação Institucional e Jurídica, dizer, explicitamente, que havia grupos dedicados ao extermínio de jovens negros em Salvador. Imaginei branquelos usando capuzes brancos, percorrendo Salvador, incendiando cruzes, ao invés de traficantes multicoloridos exterminando inimigos/devedores/inocentes igualmente multicoloridos......
Ocorre que tal raciocínio é uma falácia conhecida como "Falácia Post Hoc ergo Propter Hoc".
Calma, não xinguei ninguém.
A falácia Post Hoc é aquela que confunde correlação com causalidade. Por exemplo: Fulano enriqueceu ao mesmo tempo em que Beltrano empobreceu. Logo, Fulano enriqueceu às custas de Beltrano. Ou então: Os negros são minoria nas universidades, ao passo que existe racismo no Brasil. Logo, o racismo é a causa dos negros não estarem na universidade.
Captaram?
Uma relação de causalidade não se estabelece automaticamente nestes casos. Para que ela surja, por exemplo, temos que estabelecer não somente a "raça" das vítimas, mas também a "raça" dos assassinos e a motivação racial dos crimes.
Do contrário, o raciocínio de que as vítimas negras são vítimas de racismo permite inferir que as vítimas brancas também o são.
Muito da falácia Post Hoc se circunscreve ao campo das crenças pessoais, e por esta razão é muito difícil refutar, rapidamente, esse tipo de falácia. Neste caso, ao invés de entrar numa argumentação com o adversário, deve-se, sinteticamente expor o argumento como falacioso e, se o adversário insistir nele, encerrar a discussão, pois é evidente que discutir algo com alguém que ignora o que está se tratando, ou deliberadamente atua com falsidade é uma bruta perda de tempo.
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